"Nietzsche também tinha a solidão como sua companheira.
Sozinho, doente, tinha enxaquecas terríveis que duravam três
dias e o deixavam cego.
Ele tirava suas alegrias de longas caminhadas pelas montanhas,
da música e de uns poucos livros que ele amava.
Eis aí três companheiras maravilhosas! Vejo, frequentemente, pessoas
que caminham por razões da saúde.
Incapazes de caminhar sozinhas, vão aos pares, aos bandos.
E vão falando, falando, sem ver o mundo maravilhoso que as cerca.
Falam porque não suportariam caminhar sozinhas.
E, por isso mesmo, perdem a maior alegria das caminhadas, que é a
alegria de estar em comunhão com a natureza.
Elas não vêem as árvores, nem as flores,nem as nuvens e nem sentem o vento.
Que troca infeliz! Trocam as vozes do silêncio pelo falatório vulgar.
Se estivessem a sós com a natureza, em silêncio, sua solidão tornaria
possível que elas ouvissem o que a natureza tem a dizer.
O estar juntos não quer dizer comunhão. O estar juntos, frequentemente,
é uma forma terrível de solidão, um artifício para evitar o contato conosco mesmos".
Créditos: Instituto Rubem Alves
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